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MARTIRES DO UGANDA – UMA REFLEXAO ECUMENICO-POLITICA

A Diocese de Tete demonstrou dinamismo espiritual ao iniciar uma primeira peregrinação ao Uganda por ocasião das festas do 3 de Julho (2024), dia dos Mártires do Uganda, dos quais os mais conhecidos são os Santos Carlos Lwanga e Kizito Omuto.  Como ficou escrito num artigo publicado pela Paróquia de Matema, esta peregrinação foi conjunta com a Diocese de Lichinga e com os peregrinos do Malawi.  Tal colaboração abre perspectivas para maior reforço pastoral entre a Diocese de Tete, pela sua posição fronteiriça, com dioceses vizinhas do Malawi e da Zâmbia.  Ela demonstra que o dinamismo da Diocese é um instrumento inestimável, a ser explorado para a melhoria do acesso pastoral a zonas remotas da Diocese, onde os servidores de Deus deste lado da fronteira têm dificuldades de acesso, ad majorem Dei gloriam.  O exemplo foi dado pelo Pastor da Diocese, Dom Diamantino Antunes, ao convidar três Bispos das Dioceses de Zomba, Blantyre e Lilongwe (Malawi) para uma visita pastoral conjunta a Tete no mês de Maio deste ano. Mas este é assunto para outra ocasião. 


Voltemos à história dos Mártires do Uganda: Em 1887, o Kabaka (Rei) Mwanga II deu ordens de morte a 22 sujeitos seus por se terem convertido à fé cristã e terem aderido à Igreja Católica.  Eles foram imolados no distrito urbano de Namugongo.  Entretanto, gostaria de sublinhar o facto de que estes 22 mártires católicos se juntam a 23 outros mártires cristãos Anglicanos que pereceram da mesma maneira, ao mesmo momento, sob a mesma ordem e pela mesma razão de conversão.  Fala-se muito menos destes e interessa-nos não os eclipsar nas nossas menções.  Estes Anglicanos cujo sangue se misturou ao dos católicos, levaram o Papa a plantar em Namugongo uma árvore da solidariedade cristã entre as duas igrejas, um gesto ecumênico característico da cúpula da Igreja Católica. 


A importância do Uganda para a fé cristã foi marcada pelas visitas de três papas diferentes a este país, um facto que é raro.  Com efeito, em 1969, o Papa Paulo VI, em 1993 o Papa Joao Paulo II e em 2015, o Papa Francisco visitaram Namugongo. 


No Uganda, a história do martírio pela fé é ainda mais larga: recuando um pouco na história dos reinos do Uganda, em 1877 (dez anos mais cedo), um grupo de 70 Muçulmanos também foi imolado por queima no fogo, por ordens do Kabaka Mutesa, no mesmo local (Namugongo), pelas mesmas razoes de fé. 


Os Reis do Uganda aperceberam-se da expansão religiosa nos seus territórios e viram nisso um cavalo de Troia passível de destruir os seus impérios.  Infelizmente, a penetração de religiões e cultos religiosos de fora de África vieram a galope das ocupações coloniais, e estas religiões continuaram a manter-se associadas orgânica, administrativa e legalmente com os estados colonizadores.  Basta lembrar, no contexto de Portugal, a Concordata com a Santa Sé[1].  Muito infelizmente, como o prova também a história tumultuosa de Moçambique, que seja no período colonial, que seja na adaptação das relações entre o estado e a Igreja após a independência do país. 


Assim, enquanto nós olhamos apenas para o aspecto de fé destes acontecimentos no Uganda, não podemos, como Africanos, alhear-nos ao facto de que estas ordens reais faziam parte de um esforço de sobrevivência do seu estado contra a ocupação colonial. 


Mais uma vez, esta perspectiva histórica é importante para o nosso comportamento dicotômico: como cristãos e como cidadãos Moçambicanos com opções do exercício do poder público e político. 


Quero concluir com duas observações:

  1. Sublinhar o facto de que os Mártires do Uganda foram os primeiros Africanos santificados em 1964, decorridos muitos séculos desde a santificação de Santo Agostinho (Argélia) em 1292 pelo Papa Bonifácio VIII.  E o próximo santo Africano foi a Irmã Josephine Bakhita, santificada em 2000.  Estou à procura de outros mais santos católicos Africanos.  Depositamos esperanças na canonização de João de Deus Kantedza e Sílvio Moreira, padres Jesuítas, ambos dos quais conheci pessoalmente, um na Missão da Fonte Boa (grande cantor, dinamizador da catequese e fotógrafo que nos ensinou a fabricar o terço na sua oficina) e o segundo, no Seminário do Zobwe (filósofo consumido e silencioso, grande atleta).

  2. Que eu me sirva deste artigo também para sublinhar o trabalho pastoral da paróquia da Matema e seus dirigentes, entre padres e animadores, na preparacao desta peregrinação conjunta.  E aproveitar para fazer ressaltar a existência na igreja de Na Sra. das Graças de Matema de um retrato silencioso e meio apagado de Santa Josephine Bakhita.  O fresco pode ser melhor protegido.  Pelo exemplo da sua vida humilde, ela é uma inspiração e podia ser adoptada pela mulher da paróquia como sua intercessora. 

 

  • Viva a Paroquia de Nossa Senhora das Graças. 

  • Que Santa Josephine Bakhita interceda pelas famílias paroquianas afim de estarem protegidas perpetuamente pela graça de Deus e a paz nos seus lares. 

  • Muita força pastoral e saúde ao Bispo da Diocese, Dom Diamantino Antunes.


Canhandula, A. Jose 

Tete, Julho 2024 




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