Ou
ATO DE CONTRICAO
Ou ainda
AUTOCRITICA DE UM MOCAMBICANO
Autocrítica é uma expressão que só o Moçambicano dinossauro que já era jovem em 1975 compreende. Uma expressão que nos foi trazida pelos libertadores do nosso país contra o colonialismo Português.
Ato de contrição soa muito religioso. É uma linguagem que compreendo muito, mas não é comum. Significa apenas arrependimento.
Melhor é autocritica mesmo.
Faz dois anos e meio que me reformei e deixei de perambular preocupado com assuntos do meu empregador, voltei à minha terra. Logo fiquei afetado com andar das coisas. O acesso a serviços de qualidade, as grandes bichas que nos lembra os tempos do cartão da ração alimentar, mas que são na verdade vestígios de um tempo de COVID que já lá vai, mas que ficou mais cómodo para o funcionário dentro do seu escritório com ar condicionado, enquanto o cliente se frita ao sol. A qualidade do serviço de educação, a controvérsia em redor de textos escolares com erros imperdoáveis, mas sem consequências para quem quer que seja, as pontes que desabam, uma estrada nacional cujo melhoramento não tem prioridade, a qualidade dos serviços de saúde, demonstrada pelas greves repetidas dos profissionais da saúde, os surtos de conjuntivite e cólera, etc.
E os grandes problemas que nos preocupam sobremaneira: a guerra em Cabo Delgado, forças estrangeiras de países com interesses expansionistas não declarados, a precipitação sobre o nosso gás: o explorador é também comprador, avaliador, declarante, determinador do preço, exportador, dono da complexa infraestrutura e logística, a qual não acedemos e nem sequer compreendemos como se gere!
E a que propósito vem a autocritica?
Simplesmente porque não defini ainda a minha contribuição para a solução destes problemas. Nem tenho ilusões nenhumas: na minha idade, até já defini os limites da minha capacidade restante, não só física, mas também social e política.
O máximo que posso fazer é votar. No sentido de que votar e exprimir preferência por um programa nacional ou outro que as forças políticas nos propõem. Para chegar a uma resposta, sou guiado por três elementos:
A minha consciência do dever cívico nacional: se quiser contribuir para corrigir os grandes problemas e para renovar ou modificar a máquina de gestão do estado (não de partido algum) a partir da cabeça no comando, a minha voz conta.
As propostas de programas das forças políticas nacionais que se adequem e que eu acredito ser um conjunto de soluções adequadas aos problemas de que o nosso país padece. E de programas de saída da miséria, a industrialização, a redução (redução significa entreter sem fim, o correto é pôr fim à) da dependência alimentar, num país contudo regado por vários rios enormes.
A atitude das próprias forças políticas em relação ao povo e a uma juventude politicamente mais astuta.
Em relação a (1), eu voto e contem comigo na bicha.
Em relação a (2), ainda não vi, li ou ouvi nenhum programa ou manifesto corajoso, inventivo, futurista. De Maio a Outubro, ainda não vislumbro nada que determine a minha posição.
Em relação a (c), tenho pena de dizer que as atitudes das forças políticas desde que se anunciou a eleição presidencial:
São viradas para dentro de si mesmas: Elas discutem entre si e até hoje, Maio, não envolvem o povo, a população, o Moçambicano do campo ou da cidade. Na linha lógica das declarações que ouvimos, deduzimos que o seu pensamento é de que o povo vai ter que seguir ordens que vão ser dadas quando estiverem preparados para dar tais ordens. Não pertence ao povo querer, pertence aos partidos querer e dizer ao povo o que deve querer. Talvez pensem que o que determina a vitória é o voto do militante, das organizações sociais dos Partidos, os membros.
Infelizmente, a esmagadora maioria do povo Moçambicano hoje não pertence a nenhum dos três partidos importantes. E é esta maioria, cujas simpatias podem variar e variam, que determinam a vitória eleitoral, se não houver manipulação ou coerção. Por isso é importante engajar o diálogo com o simpatizante, não com o membro já adquirido, cuja mente já está conquistada. A semente vai ser deitada à terra em Maio para germinar e dar fruto, tudo isso em Outubro?
Ainda quer o leitor saber se vou votar?
Jose,
Tete, 08 de Maio de 2024
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