Esta pergunta está na mente do todos os moçambicanos por três razões diferentes, segundo os interesses, a saber:
Os que querem ver-se livres dele porque perturbou e está quebrando a continuação de um sistema montado durante décadas e que beneficia um grupo de pessoas por poder político vigente.
A grande massa que de repente tem um verdadeiro porta-voz e que abriu as portas à manifestação do seu verdadeiro sentimento de miséria contínua.
A um grupo de pensadores que acreditam na necessidade de mudança de política afim de que o país avance e que, vendo a expressão popular evidente, sabem que o sistema tal que ele quer se perpetuar, não tem chance, mas que este movimento popular necessita neste exacto momento, de orientação. O fogo deve ser orientado, ou não faz mais do que destruir.
É neste último contexto que se inserem as negociações e os apelos públicos para que a direção esteja junto do fogo para dirigir o tal fogo e evitar a destruição pura e simples. É aí onde devia estar presente Venâncio. Mas não está.
A quem beneficia a ausência física de Venâncio? Porque é que o chefe supremo, portanto com todos os poderes nas mãos, não previu que Venâncio não estaria em Maputo e, portanto, para estar a mesa das negociações entre os quatro pretendentes ao trono, não usou de tais poderes para assegurar a participação de Venâncio, física ou virtualmente.
É aí onde se encontra Venâncio. No espaço político apropriado e monopolizado.
A ordem dos Advogados ofereceu os seus préstimos para facilitar o diálogo pós eleitoral. Aí está Venâncio.
Os nossos grandes figurinos políticos agora na reserva fizeram declarações onde apelavam à calma e à não destruição de propriedade, chamando vândalo quem isso fizesse. Apelaram à paz. Mas não tiveram a coragem de adicionar: paz e justica e verdade são inseparáveis. Quem quer falar de um e ignorar os outros dois é intelectualmente desonesto, politicamente amnésico e socialmente mentiroso. Aí se encontra Venâncio.
Por razões históricas, as nossas instituições de estado foram apropriadas pelo poder político. Consequentemente, estas instituições não defendem a república nem o estado, mas sim o governo. Um governo que se quer estado. Assim, os políticos não se deram conta ainda de que certas instituições do estado tais como a polícia e os serviços secretos se apoderaram do poder político. A polícia e os serviços de segurança estão tomando decisões políticas. Daí o número de mortes e de assassinatos, que contradizem na prática as declarações públicas do poder político. Sabemos que a vandalização de infraestruturas não é feita apenas por uma população que carece de direção física presente no terreno, mas também por forças que querem denegrir este levantamento político. As duas forças estão em jogo.
Aqui Venâncio não está, não tem culpa, mas devia estar, afim de educar, direcionar e alertar estas forças populares.
Aqui vai agora o mais importante: onde Venâncio verdadeiramente se encontra: Quem ouviu Venâncio falar do SUSTENTA, de Cahora Bassa, de Cabo Delgado, de Forças estrangeiras em Cabo Delgado, do gás de Cabo Delgado, do carvão de Moatize, etc, sabe onde Venâncio está.
Venâncio está no fogo cruzado de interesses estrangeiros combinado com o fogo interno dos que facilitaram a situação econômica extrativista presente de Moçambique. Um grande supermercado de produtos externos desde a comida que se consome nas cidades: a shoprite e seus gêmeos de comércio de produtos importados, de produtos de segunda mão etc.
Tudo isso é sabido. O que não é tão evidente é o seguinte (e aí se encontra verdadeiramente Venâncio):
A guerra europeia da Ucrânia está associada ao corte de fornecimento de energia da Rússia: hoje a Europa importa o gás dos EUA, gás de xisto sete vezes mais caro e as industrias europeias estão falindo: Alemanha, França, os grandes motores econômicos da Europa. Concomitantemente e de forma curiosa, o Niger acabou rompendo com a exportação barata do urânio que a Franca vinha mantendo há décadas, quase gratuitamente alimentando a indústria francesa e permitindo a França de exportar electricidade para outros países da Europa.
Assim, a França faz e continuará fazendo todos os esforços lícitos e ilícitos para recuperar o terreno perdido na África Ocidental: Niger, Mali e Burkina Faso. Felizmente, as forças militares foram também expulsas destes três países. Agora o Chade e o Senegal anunciaram que também vão pedir a retirada das forças francesas. A garantia de regimes que permitiam a extração gratuita e desprezante de recursos que mantêm o alto nível de vida da Europa que nós tanto admiramos, está desaparecendo e vai desaparecer ainda mais em 2025.
Quem não percebeu vai dever perceber agora: o que se passa em Moçambique não é isolado e não se trata apenas do povo contra um sistema nacional implantado desde a independencia: a luta do povo moçambicano é uma luta africana mais ampla: uma luta pela soberania sobre os recursos. Contra uma Europa que olha para o gás de Moçambique como a solução do impasse em que se meteram: provocaram uma guerra contra uma Rússia que não está brincando com a sua soberania e seguranca nacional, uma Ucrânia que se está imolando por causa de uma cegueira europeia orgulhosa que vive no seculo passado e se esqueceu que quem livrou essa mesma Europa do nazismo foi a Rússia que hoje combatem.
Aí se encontra Venâncio. Nesse espaço potente, onde forças africanas estão sendo financiadas para se intrometerem em Cabo Delgado e defender esse gás que faz falta à Europa. O inverno na Europa, que eu ja experimentei durante cinco anos, é inclemente.
Quando Venâncio diz que devemos renegociar os contratos de gás e do carvão, lá se encontra ele: No interstício entre uma Europa em desespero e negociadores nacionais que se serviram do conceito de Parceria Publico-Privada para se instalarem firmemente na economia nacional, facilitar o extractivismo estrangeiro, e lucrar sem sacrificar sequer um Metical: a electricidade, o gás, não só de Cabo Delgado, o carvao, o Sustenta. Aí está o Venâncio.
Num partido que nunca sonhou ser o segundo mais votado.
À revelia de um partido que pensou que as eleições eram apenas para reconfirmar a sua posição anterior de segundo partido mais votado e que não investiu esforços para mais do que isso: continuar em segundo lugar.
Assustando um partido que estava confortável, altivo e seguro de que era só dar ordens e o povo iria seguir como sempre.
É aí que se encontra Venâncio.
O movimento popular deve ser entendido e dirigido, não atropelado como aquela moça que foi atropelada à vista de todo o mundo e que simboliza precisamente como o povo e a sua soberania são tratados pelo poder actual: atropelo petulante do povo.
Neste fim de ano temos uma oportunidade de explorar urgentemente como se vai fazer prevalecer a verdade. E a justiça social.
Podemos começar por esperar a libertação dos prisioneiros destas manifestações, como gesto de boa vontade?
Podemos esperar que se abandone o teatro distrativo e usem do poder residual para abrir o caminho ao diálogo sincero:
eliminar todos os processos contra um candidato presidencial visado;
levantar as restrições sobre os seus haveres financeiros, restaurar a sua imunidade presidencial para ele poder vir ao país participar no tal encontro falido?
Haveria coragem de se encontrar um mediador dos quatros aspirantes presidenciais que não seja parcial? Que tal a oferta da Ordem dos Advogados? Talvez desta maneira se encontre o paradeiro de Venâncio.
Senão, não haverá festa de Natal e de Ano Novo como ele anunciou. Como já vimos e testemunhamos, a sua palavra será acatada. Haja coragem política: que tal amputar uma perna para o resto do corpo poder viver em boa saude?
Venâncio, se deveras você um dia me ler, estas são verdades que vocemecê já conhece. O que lhe falta agora é definir como pretende lidar com estas forças todas, afim de que o povo seja servido em primeiro lugar, enquanto se reconhecem os interesses estrangeiros estabelecidos. Reformular a segurança dos interesses estrangeiros, devolvendo o respeito das forças armadas nacionais, dando-lhes os meios necessários, comida e armamento e educando-as no respeito pelo povo durante a guerra.
Forcas estrangeiras: que saiam sem derramamento de mais sangue, de forma ordenada, honrosa e urgente, tudo ao mesmo tempo.
Moçambique tem necessidade urgentíssima de líder e de se desfazer do chefe excessivamente protegido por um protocolo isolador e que se apropriou da soberania colectiva, transformando-a em suserania. Não sou eu que o diz, é o povo que destruiu duas estátuas ainda este mês. Aliás, porque erigir estátuas a pessoas que estão vivas?
Os instumentos de soberania neste momento de transição estão ausentes deste levantamento popular todo e isso está sendo perigoso: a Assembleia da República, o Conselho de Estado. Ajudem-nos a ver 2025 mais brilhante. Tenham franqueza intelectual e coragem politica para identificarem a partir de onde nos fizeram desaguar nesta miséria e dependência nacional.
A Europa em 2025 estará mais abandonada e mais confusa, apesar das aparências quando vieram observar as nossas eleições: estavam mais interessados na estabilidade de um regime e de um sistema que conhecem e que continuaria a permitir a exploração do gás e dos rubis de Cabo Delgado. Não é por aí que teremos a solução nacional.
Nem haja ilusões: não existe ajuda, como não existe amor entre estados. Moçambique: só os Moçambicanos podem te erguer e defender.
O povo precisa de direção e está dizendo não a uma certa direção que deixou cair o povo e está mais interessado no comércio via Ressano Garcia. A propriedade provada eles lamentam que seja destruída, mas não lamentam a perda de vidas humanas. Esta inversão de valores caracteriza os nossos dirigentes: chefes que deixaram de ser líderes.
Jose,
Dezembro de 2024
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